14 julho 2015

O Meu Regresso

O momento em que temos de reiniciar!


     Enquanto somos au pairs, dificilmente vamos postar e compartilhar com os amigos do Facebook que estamos passando um perrengue aqui e ali. A grande maioria das vezes, vamos compartilhar nossos momentos de alegria durante nosso ano de intercâmbio. Afinal, quem é que quer saber sobre o peso que está nas suas costas? É por isso que as pessoas adoram dizer que levamos uma vida fácil. É realmente muito fácil julgar por uma foto do que pelo o que realmente acontece. E é por isso que eu não compartilhei com ninguém que eu voltei para o Brasil, exceto é claro com a minha família (meu maior e melhor suporte para todos os momentos <3). 
     Inicialmente, eu estava um pouco frustrada e triste demais para dizer isso às pessoas. Seja aos amigos mais próximos ou àqueles mais longínquos. Sinceramente, pouco me importo com o Facebook. Mas, seria uma forma mais fácil de avisar e explicar aos que tenho mais contato de que eu voltei. Entretanto, continuo na surdina (espero que por pouco tempo). 

Mas, afinal, por que você voltou?

     Eu voltei porque fui expulsa do programa. A Au Pair in America me expulsou do programa! Pois é, eles não são tão amorosos assim. Parece até engraçado agora quando eu avalio tudo o que aconteceu. Quando estava começando a procurar sobre, acabei decidindo pela APiA, pois muitas amigas e conhecidas haviam me dito que era mais caro, porém, tinha um suporte fora de série durante o seu ano nos Estados Unidos. E até hoje me pergunto onde estava esse suporte quando eu mais precisei?

O que aconteceu? Por que você foi expulsa do programa? 
(Senta que lá vem a história!) 

     Nos últimos tempos, eu estava passando por muita coisa. Tem aquelas pessoas que nascem com o bumbum virado para a Lua; mas eu nasci com o bumbum virado para o Sol e olha... estava ardendo muito! Foi como eu disse no post anterior, tem pessoas que se dão muito bem em seu programa de au pair. Mas, tem aquelas (como eu) que não tem tanta sorte assim. 
     Depois que eu tive a conversa pelo telefone com a minha lcc, eu fiquei muito pior do que eu já estava. Me sentia totalmente solitária dentro daquela casa, sem amigos próximos e nenhuma consideração. Era o fim de semana do aniversário do meu host e a minha host estava duplamente ocupada. Eu precisava conversar com alguém, qualquer um que fosse, mas não dava. Eu chorava o tempo inteiro. Pensei que fosse homesick, mas minha mãe insistia em me perguntar se eu estava sendo feliz naquele lugar. E eu, boba-lerda-idiota, dizia que estava tudo bem. Mas não estava. A ligação foi na quarta à noite. Eles começaram a arrumar tudo para a festa na sexta e não me disseram nada. Fui me oferecer para ajudar e a filha mais velha (22yo) me disse que estava tudo OK e que eu podia aproveitar meu tempo off, já que iria trabalhar no sábado. 
    No sábado de manhã, minha host veio me perguntar o que diabos eu estava fazendo que não estava ajudando eles em nada. E foi aí que eu disse que a enteada dela me disse que eu não precisava ajudar e que estava tudo OK. Ela virou para mim e disse:"Ela não sabe de nada. Somente de gastar o dinheiro do pai. Ou você ajuda ou você não é parte dessa família." É, muito justo mesmo. Eu trabalho pra caramba! Faço muito mais do que está no contrato e se eu não ajudar a arrumar uma festa, não sou parte da família. Queridinha, eu nunca fui considerada parte da sua família. - Quisera eu ter tido coragem para dizer isso na hora. 
    O domingo foi dedicado à limpar tudo e adivinha quem estava lá? Sim, eu estava lá ajudando. À tarde, enquanto estavam todos moídos na cama, lá estava eu cuidando da kid, pois os pais estavam com uma ressaca imensa e os filhos.. Bem, os filhos nunca ajudaram com nada. Eu a levei em uma festa de aniversário, fui buscar, fiz o jantar e nada de ficar off. Quando eles finalmente levantaram, a host me disse que tinha que levar o host no médico pois ele não estava bem. E eu fiquei com a kid até ela dormir. 
     As coisas não estavam andando bem, mas aquela era a minha segunda host family e eu sabia que nem tudo eram flores, que sempre haveriam dias em que seria um sufoco e dias em que eu só seria humilhada. 
    Na segunda de manhã, eu arrumei tudo para a kid ir para o camp, levei-a até a casa dos vizinhos para pegar a carona e fui arrumar a casa, fazer o meu serviço. Fui ao supermercado, cuidei dos cães, preparei meu almoço, escovei os dentes e fui buscar as kids no camp. Mas, na segunda de manhã, por mais que eu tivesse a minha rotina do dia-a-dia, eu acordei estranha. Meu corpo pedia para ficar na cama, tudo estava acontecendo para eu continuar em casa, mas eu fui contra. Tenho certeza de que foi um sinal. Foi só eu entrar no carro que o sol se escondeu e os sinais de chuva começaram a aparecer. 
     A distância de casa até o camp eram de 30 minutos e nesses 30 minutos, tudo, absolutamente tudo mudou. Começou a relampear, em seguida, uma super chuva! Um trânsito que eu nunca tinha visto antes na cidade e o "bendito" sinal da esquerda. Eu já estava há 5 minutos de chegar no camp, dentro do horário e esperando pelo sinal. 
     Obs - Uma breve explicação sobre esse sinal: Existe um sinal específico para quem irá virar à esquerda. Primeiramente, aparece uma seta verde e essa indica que você e unicamente você poderá virar à esquerda. Depois, aparece o sinal verde. Porém, o sinal verde aparece para a faixa contrária também! Ou seja, você só pode virar se não estiver vindo nenhum carro ou se o carro que estiver na outra faixa ceder. 
    A faixa da direita estava completamente cheia de carros, mas ninguém bloqueia a intersecção. A faixa da direita estava com carros, mas aos poucos, foram diminuindo. O carro que estava na faixa da direita avisou que eu poderia seguir que ele não iria avançar. Pois bem, eu fui com o carro até o meio da intersecção e fiquei olhando para ver se na faixa central não estava vindo nenhum carro. A velocidade máxima permitida naquela avenida era de 30 milhas/hora. E eu estava bem menos que isso. Ao olhar e ver que não vinha nenhum carro, eu acelerei um pouco e virei. Nesses 3 segundos, um carro veio com tudo para cima de mim e puff!! Acidente de carro. Quando o outro carro bateu no meu, foi horrível! Toda a minha vida passou pela minha cabeça, todo o meu ser entrou em choque. O meu carro foi parar um pouco mais para frente da avenida, à uma lasca do poste de luz. E o outro carro em cima da calçada. O senhor que bateu no meu carro estava intacto. Saiu do carro e veio como um furacão para cima do meu carro. Começou a bater no vidro e me xingar sem parar. Eu estava em pânico. Não sabia ao certo o que fazer, estava chorando e tentando ao mesmo tempo entender o que tinha acontecido. Alguns minutos depois, um rapaz se aproximou do meu carro e pediu para aquele senhor se afastar e avisou-o que a polícia estava chegando. Ele começou a falar comigo e nos primeiros instantes eu não estava entendendo. Perguntei se ele falava espanhol e ele disse que não. Eu tentei engolir o choro e a primeira coisa que eu disse foi para ele ligar para o meu host e pedir para alguém buscar as kids no camp. Em seguida, ele me perguntou o que tinha acontecido e se eu estava bem. Eu tentei explicar o que havia acontecido e ele percebeu que o meu inglês não era assim tão perfeito quanto o de um americano e perguntou se eu era estrangeira, eu respondi que sim. A cara dele mudou. Mas, inicialmente, eu não entendi por que. 
     Pouco mais que 15 minutos depois, a emergência havia chego e a polícia também. O policial perguntou se eu já tinha a driver license e eu disse que não, somente a permissão internacional para dirigir. Eu permiti que ele pegasse dentro da minha bolsa e quando ele viu que eu era estrangeira, a cara dele também mudou. Os bombeiros colocaram uma tala no meu pescoço depois que viram o corte que eu tinha no ombro e me ajudaram a sair do carro, deitei em uma maca e fui para a emergência. Fiquei lá por pouco mais de sete horas e sem nenhuma notícia da minha host family. Ninguém foi até lá para saber se eu estava viva ou morta. Fiz todos os tipos de posições para o raio-x e por Deus, eu não tinha quebrado nenhum osso. Fiquei com alguns cortes por conta do aperto do cinto e hematomas pelo corpo. Minhas pernas estavam muito inchadas, eu mal conseguia andar. Estava esperando pelos resultados dos exames quando o policial entrou no quarto e perguntou se eu estava bem e se poderíamos conversar sobre o acidente.  Eu disse que sim. E foi nesse momento em que eu descobri mais uma vez que americano nunca fica contra americano. O senhor que bateu no meu carro estava no dobro da velocidade permitida, o que já é um grande problema. Mas, ele era americano e eu brasileira. E uma das testemunhas também sabia disso. Segundo o policial, a culpa era tanto minha quanto do outro. 50% de culpa para cada um. Independente do meu depoimento à respeito. Tudo bem, eu deveria ter esperado por mais 5 segundos e depois virado, ou esperado pela próxima seta verde, mas eu não fiz. Então, eu aceito que a culpa também possa ter sido minha. Mas as coisas mudaram MUITO de figura quando descobriram que eu não era americana. Ainda ganhei uma multa de US$ 230 pelo o que tinha acontecido. 
     Mais tarde, quando recebi os resultados do raio-x e fui liberada, liguei para o meu host e ele disse que iria me buscar e que era para eu estar pronta, pois ele chegaria em 15 minutos. E assim eu fiz. Quinze minutos depois, ele chegou. A única coisa que me perguntou foi:"Você quebrou alguma coisa?" E eu disse que não. E ele:"OK. Vamos embora." Nenhuma palavra foi dita dentro carro ou depois que chegamos em casa. Nós chegamos em casa e ele pegou algumas cervejas e saiu com a kid. Eu subi para o meu quarto, tomei um banho e fui conversar com os meus pais no skype. Quando eu comecei a contar para a minha mãe o que tinha acontecido, ela me disse que havia tido um pesadelo na noite passada comigo. Depois que eu comecei, as lágrimas começaram a vir também. Naquele momento, não houve dúvidas de que eu deveria voltar para casa. 
      Antes que pudéssemos terminar a nossa conversa, minha lcc me ligou. Nenhuma pergunta referente ao fato de eu estar bem ou não. Pediu para eu explicar o que tinha acontecido e em seguida, me disse que era para eu arrumar todas as minhas coisas, pois em alguns dias estaria voltando para o Brasi. "Você não tem mais como ficar aqui. Por conta disso, a APiA está te excluindo do programa." Perguntou se eu tinha dinheiro suficiente para a multa, o seguro do carro e a passagem de avião. E eu disse que não. Só a multa + o seguro já seriam US$ 730, ainda mais a passagem que era para dois ou três dias depois.. Seriam uns US$ 1,000 no mínimo e eu não tinha tanto dinheiro para isso. Me disse que eu deveria fechar a minha conta no banco, pagar a multa e devolver tudo o que eu tinha, mas que na verdade pertencia à minha host family; pois eles não me queriam mais ali e eu iria passar os últimos dias na casa dela. E, que se eu tivesse que falar com o seguro ou qualquer outra empresa referente ao acidente que eu não deveria, pois meu inglês não era bom o suficiente para isso e que eu poderia falar besteira ou algo errado para eles. 
    Eu disse que tudo bem, que iria fazer tudo aquilo. Por uma vez mais, meus hosts não conversaram comigo, jogaram tudo para a lcc conversar comigo, com aquele jeito doce e compreensivo dela. Foi um momento muito difícil. Descobrir que você está sendo expulsa do programa e sem te explicarem exatamente por quê. Seus hosts não tem a decência de conversar com você e fogem para a casa dos vizinhos para isso.

E você não fez nada para ficar?

     Eu fiz. Primeiramente, eu postei no grupo Au Pair do Facebook e contei sobre tudo o que tinha acontecido e perguntei se estava certo eu ser expulsa do programa. E quem sabia ou já tinha passado por algo parecido, tentou me ajudar. Teve uma menina em especial que se prontificou a me ajudar e entrou em contato com o governo americano (eles tem um escritório específico em auxílio aos visitantes com o visto J1). Porém, eles não retornaram e não auxiliaram em nada. Alguns me instruíram a mandar e-mail para o escritório oficial da APiA em Londres e eu o fiz. E a resposta que eu recebi foi que eles estariam enviando um e-mail para o escritório em Boston, de forma que eles ficassem cientes de tudo o que eu tinha passado. Mas que, infelizmente, eles não poderiam me ajudar. No e-mail que eu mandei, eu contei absolutamente tudo! Desde o primeiro dia com a minha primeira host family, o problema com a minha segunda lcc, com a kid, o fato da area director não ajudar em nada e sobre eu realmente querer ficar no programa. Em troca, recebi uma ligação da area director falando sobre a passagem aérea, que ela teria me enviado por e-mail e que eu deveria confirmar que pegaria o voo. Que, se eu quisesse, eu ainda poderia voltar como au pair em um ou dois anos, mas por outras agências. Que eu resolvesse ficar, independente e ilegal, tudo bem, era a minha escolha. Porém, se eu ou minha família tivessem algum outro tipo de visto americano, ele seria cancelado e seríamos impedidos de retornar ao país por até 10 anos. Demorou, mas eu consegui entender tudo o que eu estaria colocando em risco se continuasse lutando para ficar. 
     O importante é que eu tentei. Eu tentei mesmo, de todas as formas ficar legal no país e ainda continuar como au pair. Mas, não deu! E o melhor mesmo era voltar. 

E os últimos dias lá? Como foram

     Horríveis! Eu não tive como sair e comprar algumas coisas. Fizeram o favor de me levar até a Target e me deram 10 minutos para pegar tudo o que eu precisava. Eu até cheguei a conversar com os meus hosts, pedi desculpas pelo acidente e desejei à eles tudo de bom. A host me disse que entendia que eu não havia feito aquilo por mal (É claro que não!! Foi um acidente.), mas que infelizmente, não tinha como ficar comigo. Não por eu ser uma má au pair, muito pelo contrário; que como au pair, eu era ótima. Era porque ela precisava de alguém que pudesse dirigir a filha e eu não era mais a pessoa certa para aquilo. Me desejou tudo de bom também. 
     A area director me ligou e perguntou à respeito de toda a minha experiência até ali, especificamente sobre a minha primeira host family. Queria detalhes e saber de tudo o que tinha acontecido, uma vez que a primeira lcc não havia dito nada. Se desculpou pela minha péssima experiência, mas não fez nada para que eu pudesse ficar. Fez questão de frisar que a APiA estava indo contra os princípios ao me pagar a passagem de volta, uma vez que essa era uma obrigação da au pair; mas que ela sabia que eu não tinha dinheiro e eles fariam isso por mim. 
     O meu último dia com eles foi na quinta, pois eles foram viajar. Na quinta à tarde, minha lcc foi me buscar e as minhas últimas horas nos Estados Unidos foi ao lado dela. Ela já estava sabendo que eu tinha falado para a APiA sobre o tratamento que ela tinha comigo e com outras meninas, então, ela se policiava e tentava ser o mais gentil possível, mas sem sucesso. 

Quando foi que você chegou no Brasil    

Eu sai de Ohio na sexta-feira, 3 de Julho. Cheguei em Guarulhos no sábado, 4 de Julho. 


{Obs: Esse não será o meu último post no blog. Ainda irei postar e dizer como foi a minha volta para casa tão repentinamente.}





2 comentários:

  1. Que pena q tudo isso aconteceu .... tomara que tudo dê certo na sua vida agora, graças a Deus está perto da sua família e amigos!
    Agora é recomeçar !!!!
    Bjuusss

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    1. Graças a Deus mesmo! E é recomeçar sempre!! :)
      Obrigada!! Bjs.

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